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Unidades de medida baseadas no corpo – uma evolução cultural

Foto do escritor: Sergio SaraivaSergio Saraiva

Como sistemas de medição utilizados pelos indígenas americanos séculos atrás já estavam adequados ao conceito de foco no cliente.


Muitos dos primeiros sistemas de medição padronizados pela humanidade evoluíram de unidades de medidas baseadas no corpo – medidas antropomórficas: o côvado (distância do cotovelo até a ponta do dedo médio estendido, usado no Egito 2.700 anos A.C.) - também conhecido por cúbito – é um exemplo.

E seus múltiplos e divisores – a braça (distância da ponta do dedo médio de uma mão ao dedo médio da outra, passando pelo peito, com os braços estendidos), e o palmo.


E por certo, todos já ouvimos falar da polegada e do pé – ainda bastante utilizadas em vários seguimentos da indústria.

Isso já bastante conhecido, e poderia se pensar que tal se deu em função da rudimentaridade dos meios de comparação dos quais dispunham povos primitivos que estabeleceram tais unidades – basicamente tinham o próprio corpo.

Um estudo realizado pelos pesquisadores Roope Kaaronen, Mikael Manninen e Jussi Eronen da Universidade de Helsinki – Finlândia documentou o uso de medidas antropomórficas em 186 culturas ao redor do mundo. A braça está presente em 85 das 186 culturas pesquisadas, o palmo em 81 e o cúbito em 76.

O estudo, no entanto, propõe que tais sistemas de medição baseados no corpo humano nada tinham de rudimentares, para alguns povos que os usavam; ao contrário, foram estabelecidos considerando questões ergonômicas e de adequação ao uso dos objetos aos quais eram aplicados na sua confecção.

Assim:

· Os esquis produzidos na Carélia - uma das divisões territoriais da Federação da Rússia - no início dos anos 1900, tinha a área deslizante determinada segundo o usuário: uma braça e seis palmos.

· Os ponchos mapuche - povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina - eram medidos em altura do pescoço até o joelho, e em largura do pescoço ao polegar com o braço estendido de cada usuário.

· O comprimento do arco Yahi – povo nativo de onde hoje é a Califórnia - no início de 1900, era da articulação oposta do quadril à ponta do braço estendido. A largura abaixo e acima do aperto de mão.

· As medições para construção de um caiaque Yup'ik da costa do Alasca, final do século XIX, eram muito bem definidas: o comprimento era de duas braças mais uma meia braça, mais o comprimento do assento, que era o comprimento de um braço com o punho fechado. A altura do caiaque no assento era de um côvado com o punho fechado. A largura do caiaque era de dois côvados.


Eram, portanto, referenciais cujas medidas finais variavam caso a caso, se adaptando às necessidades de cada usuário e proporcionando uma otimização do uso do objeto produzido com aquele sistema de medição.

Nosso sistema internacional de unidades – SI – baseado em uma escala decimal e padrões fixos – sete unidades básica e suas derivadas - como sabemos, tem início com a Revolução Francesa em 1789, e respondia a outra necessidade daquela sociedade: estabelecer um referencial único e confiável para as transações comerciais.


Com base nelas estabelecemos normas de engenharia e sistema de certificação de produtos. E também atividades de fiscalização governamental.

Na maioria das vezes, é isso mesmo que necessitamos: um quilo é um quilo em qualquer lugar do mundo; um litro é um litro, uma hora são 60 segundos e um quilometro são mil metros.

Contudo, quando se fala em conceitos de tais como foco no cliente e personalização de produto e qualidade percebida, é interessante nota-se como, séculos atrás, outras civilizações já tinham desenvolvidos sistemas de medição adequados a esses conceitos.



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