A ISO 9001:2026 na reta final

Uma norma sem grandes alterações em sua estrutura de requisitos, mas com um grande incremento na fundamentação teórica... e com clara redundância.

A Organização ISO acaba de publicar a versão DIS (Draft International Standard) da norma ISO 9001:2026.

Esse é um estágio bem avançado da publicação de uma norma internacional; sua publicação significa que algo como 95% de seu texto já é consenso no Comitê Técnico que cuida do assunto (TC 176 – para o caso da norma ISO 9001).

A revisão da norma ISO 9001 na sua versão DIS passará agora para a etapa de aprovação pelos países membros com direito a voto na ISO (o Brasil é um deles); esse não é um processo muito rápido e pode durar até dezembro de 2025.

Os próximos estágios serão as publicações:

·         FDIS - Final Draft International Standard

·         International Standard

Algumas modificações menores ainda podem ser incorporadas ao texto, até a publicação do FDIS (Final Draft International Standard) e, por fim, algo como 60 dias após a aprovação do FDIS, ocorrrá a publicação da nova versão da norma ISO 9001.

É factível esperar-se a publicação da ISO 9001:2026 para o segundo semestre do próximo ano.

A versão ISO DIS 9001 está disponível para compra no site da ISO https://www.iso.org/standard/88464.html.

A nova norma – a mesma estrutura

O que se nota de uma análise inicial do DIS nos mostra uma norma que manteve sua estrutura, diferente do que ocorreu nas versões 2000 e 2015 que nos levaram ter de reaprender a norma.

Os princípios da qualidade foram mantidos

·         Foco no cliente

·         Liderança

·         Engajamento das pessoas

·         Abordagem de processo

·         Melhoria

·         Tomada de decisão baseada em evidência

·         Gestão de relacionamento

Os requisitos continuam com os mesmos títulos e as mesmas sequência e numeração de cláusulas e subcláusulas, estruturadas pela lógica de PDCA:

·         4 - Contexto da organização

·         5 - Liderança

·         6 - Planejamento

·         7 - Apoio

·         8 - Operação

·         9 - Avaliação de desempenho

·         10 - Melhoria

Uma pequena alteração – A subcláusula 10.3 Melhoria Contínua foi excluída. Por óbvio que melhoria contínua continua sendo um requisito, mas que agora é apresentado como uma subcláusula única (10.1) – na versão 2015, há uma clara redundância entre as subcláusulas 10.1 e 10.3 – ambas tratam de melhoria contínua – isso foi agora corrigido.

A nova norma – fundamentação teórica e redundância

Se a norma não parece ter mudado significativamente na sua estrutura de requisitos, o mesmo não podemos dizer da parte dedicada a apresentar a fundamentação teórica desses requisitos.

A “família ISO 9000” possui duas normas principais:

·         ISO 9000 – Fundamentos e vocabulário

·         ISO 9001 – Requisitos

O que se nota no ISO/DIS 9001 é que a norma ISO 9001 incorporou no seu texto uma boa parte da norma ISO 9000.

O DIS traz na cláusula 3 – Termos e Definições – nada menos do que 20 definições que já constam da ISO 9000 e que nada acrescentam quando são repetidos na ISO 9001.

E uma novidade, a citação nas referências normativas da norma ISO 3534-2:2006 Statistics — Vocabulary and symbols — Part 2: Applied statistics - mas talvez esse seja apenas mais um esforço para a compatibilização da terminologia entre as várias normas ISO.

E a inclusão de fundamentação teória em uma norma de requisitos não para somente nas definições.

Na ISO 9001:2015 há o Anexo A que não deixa de ser um texto de fundamentos teóricos incluídos em uma norma de requisitos; mas isso se explicava pela mudança significativa que a versão 2015 trazia em relação ao modelo anterior de 2008, justificando um anexo específico para esclarecimento da nova estrutura, terminologia e conceitos.

O anexo A foi mantido no ISO DIS 9001 e cresceu em abrangência e profundidade – chama-se agora "Esclarecimento da estrutura, terminologia e cláusulas" e é composto de 10 tópicos:

·         A1 – Generalidade

·         A2 – Estrutura e terminologia

·         A3 - Aplicabilidade

E de A4 a A10 - um tópico para cada requisito da norma ISO 9001 – de contexto da organização (4) à melhoria (10).

Porém, como vimos, a versão 2026 não altera sua estrutura em relação à versão 2015, não seria essa a justificativa para essa ampliação de fundamentação teórica; parece então ser mais uma nova postura do TC 176, em relação à redação da norma.

Além disso, o ISO DS traz uma referência à ISO TS 9002:2016 - diretrizes para a aplicação da ISO 9001. A ISO TS 9002:2016 é um documento pouco comentado e que, em princípio, fornece orientações sobre a intenção dos requisitos da ISO 9001:2015, com exemplos de possíveis medidas que uma organização pode tomar para atender aos requisitos; porém, se tomado como prescritivo, causa muito mais confusão que esclarecimento.

Todos esses assuntos correlatos acrescentados à norma podem tornar a ISO 9001 um documento de navegação dificultada, com um texto longo e desnecessariamente redundante em relação a outro texto já existente.

Um ponto contraditório, no entanto, deve ser notado: a subcláusula 0.3.3 - mentalidade de risco – foi excluída do DIS; mentalidade de risco era base para o entendimento do espírito da versão 2015 da norma ISO 9001 - talvez volte no Final Draft - não parece fazer sentido sua exclusão.

A nova norma – uma apreciação inicial

Esperava-se para a versão 2026 da norma ISO 9001 um texto que abrangesse as enormes mudanças pelas quais as organizações passam neste momento: mudanças climáticas - trabalho à distância – empresas virtuais – uso de inteligência artificial; porém, talvez fosse esperar demais. Não há ainda massa crítica sobre nenhum desses temas, como seria possível normatizá-los?

Assim, talvez ISO tenha optado por abordar tais assuntos dentro de um extenso rol de pressupostos teóricos e notas acrescentados à norma, sem contudo tratá-los como requisitos específicos e objetivos para um sistema de gestão da qualidade.

A experimentação desses temas pelos usuários da norma, nos próximos 5 anos – ciclo de revisão da norma – poderia assim trazer o consenso necessário para torná-los requisitos na próxima revisão.

Não seria diferente do que ocorreu em todas as revisões anteriores da ISO 9001 – apenas que o mundo nunca esteve na velocidade em que está agora.