A fábrica começa antes da fábrica, a fábrica começa na escola – o desafio brasileiro
Para o Brasil voltar a ser forte industrialmente, precisa retomar a formação de engenheiros e matemáticos.
O que é que a Irlanda tem?
Uma reportagem da BBC NEWS de 02 de março de 2024 chamou-me a atenção, referia-as a Irlanda e sobre como ela se tornou o país mais produtivo do mundo.
Segundo a reportagem, a produtividade total do trabalho irlandês é duas vezes e meia superior à média da União Europeia.
Isso se daria principalmente porque a Irlanda teria se beneficiado ao ter atraído e se tornado o país-sede de grades empresas multinacionais, tais como Diageo, Google, Microsoft, Pfizer e Meta; e com o aporte de alta tecnologia e de produtos de alto valor agregado trazidos por essas empresas.
E aparentemente é esse aporte de alta tecnologia das empresas multinacionais chegadas à Irlanda o que explicaria o salto em produtividade; já que há uma grande diferença quando se compara o desempenho das multinacionais instaladas na Irlanda com suas empresas locais.
Considerando-se a produtividade medida em VAB (valor agregado bruto); ou seja, o valor que um trabalhador acrescenta aos bens e serviços que produz:
· Empresas estrangeiras na Irlanda = 414 euros por trabalhador/hora.
· Empresas locais = 55 euros por trabalhador/hora.
Dados do 2º trimestre do ano passado.
Por certo que há questionamentos quanto ao uso desse critério para medição de produtividade.
Contudo, questões estatísticas à parte, há uma pergunta a ser feita: o que teria atraído tantas empresas multinacionais à Irlanda?
A primeira resposta é: vantagens fiscais.
Mas seria somente essa a razão?
O conhecimento como diferencial competitivo – as ciências exatas
Claro está que uma baixa incidência de impostos é um atrativo considerável, mas a própria matéria elenca outros motivos:
· Ser um país de língua inglesa
· Ser membro da União Europeia
· Ter uma força de trabalho bem qualificada.
E essa última razão me chamou particularmente a atenção: “força de trabalho bem qualificada”.
Qual seria o diferencial de qualificação do trabalhador irlandês em relação ao demais trabalhadores europeus?
· Uma proporção maior de trabalhadores com ensino superior do que a média da UE.
· Uma proporção muito maior de pessoas formadas em STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics).
A formação nas boas e velhas “exatas” como o diferencial competitivo da Irlanda – ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
Quem diria?
Pensei no Brasil atual.
A busca pela reindustralização no Brasil e no Ocidente
Como a maioria das economias ocidentais ou alinhadas ao ocidente, o Brasil passa por um processo de desindustrialização; com a China, e agora a Índia, se tornando os distritos industriais do mundo.
E por um esforço para se reindustralizar, principalmente a partir das lições tiradas da pandemia de COVID-19. E na União Européia, especificamente, pelas pressões relacionas à defesa para uma retomada dos complexos industriais-militares, em função de possíveis desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia.
No Brasil, foi lançada no início deste ano uma nova política industrial.
Mas esse é um assunto que, embora altamente relevante, não pretendo aprofundar neste texto, para não perder foco no que quero tratar: a questão da qualificação profissional.
Mas deixo aqui uma matéria muito interessante sobre o tema: ”Nova Indústria Brasil - a retomada de uma vocação desprestigiada nos últimos tempos.
O desafio brasileiro – formar engenheiro e matemáticos
Gostaria de retomar o assunto do domínio das ciências exatas como diferencial competitivo da força de trabalho de um país para atrair indústrias de alta tecnologia.
E do desafio que isso representará para o Brasil.
A procura pelo curso de engenharia e pela formação em matemática tem diminuído no nosso país.
Um estudo da A FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo mostra queda nos números de ingressantes e de concluintes nos cursos de engenharia:
· Número de novos alunos caiu 17% entre 2018 e 2019 e 39% em comparação com o pico de 2014
· Entre 2014 e 2019, a queda na rede privada foi de 48% e na pública de 3,6%
Assim como também caiu a procura pela graduação em matemática.
Os cursos de licenciatura em Matemática tiveram uma que na procura de 76%, passando de 5.980 candidatos em 2017 para 1.436 no ano de 2023 – dados do Estado do Paraná.
Isso preocupa particularmente porque, se continuado, pode representar a perda de capacitação tecnológica do país; os engenheiros veteranos fatalmente, com o tempo, deixarão o mercado, levando consigo toda sua experiêcia de campo, e não formamos, ou não formamamos em número suficiente, os novos engenheiros que por convivência se apropriariam desse conhecimento prático acumulado em décadas de vida profissional.
Brasil X Irlanda – não é sobre futebol
Como vimos no caso da Irlanda, tornar um país competitivo industrialmente começa bem antes de construir as fábricas, começa na sala de aula onde se formam os engenheiros que construirão e tocaram essas fabricas.
Infelizmente não encontrei isso entre as medidas anunciadas pelo governo para retomada da indústria no Brasil.
Para saber mais
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